segunda-feira, 27 de abril de 2015

Exposição "walk me home" - Museu Inimá de Paula



Sobre a série "Walk me home"
_Carolina Soares

Em 1962, quando o crítico norte-americano Leo Steinberg busca compreender as peculiaridades do trabalho de Jasper Johns, ainda um jovem artista, ele aponta para o que significaria naquele momento o próprio fazer pictórico. Para Steinberg, tornar-se pintor seria como “tatear o caminho num quarto escuro atulhado de coisas. Quando começa a andar, ele tropeça no sofá de outra pessoa, muda de direção para colidir com a cômoda de alguém, depois tromba com uma mesa de trabalho que não pode ser desarrumada”. Essa imagem do artista, que imerso em um universo já tão repleto de referências, precisa reinventar a própria pintura, me fez refletir sobre o trabalho de Augusto Fonseca que acabei entendendo como uma instigante provocação.

Ao vasculhar a cultura de massa dos anos de 1980 e resgatar fragmentos do cinema, da música e da TV, o artista não apenas ativa uma memória afetiva de quem cresceu com aquelas referências como também instiga reflexões em torno da própria banalidade do tema. As muitas informações reunidas em uma única tela não deixam de exercer uma espécie de espelhamento crítico das estratégias adotadas pela indústria cultural. A pintura primeiro desnorteia o observador para em seguida levá-lo a examinar uma iconografia que de outro modo poderia passar despercebida.

Não resta dúvida que o artista tem em mente algum espectador capaz de descodificar as entrelinhas: Keith Haring, Basquiat, Cindy Lauper, The Smiths, Xuxa, Stanley Kubrick, Randal Kleiser, Goonies, Titãs, Armação ilimitada, Boy George, entre outras. Todas elas como parte de um imaginário midiático misturadas a figuras desconectas criam um cenário que, se por um lado impede uma discussão mais elaborada sobre um único elemento presente na tela, por outro leva ao debate sobre a maneira como a própria cultura de massa atua, denunciando seus excessos e embaralhamentos de informações.

O trabalho de Augusto lida, portanto, com o antagonismo de dar visibilidade a fragmentos de um universo cujos conteúdos são produzidos sob a égide da invisibilidade. Dessa maneira, cada tela ou objeto apropriado ganha um humor crítico ao resgatar temas que são lugares-comuns de nosso entorno dando-lhes uma singularidade que nos faz refletir sobre o modo como recebemos todas as informações as quais estamos expostos e como as processamos e as retemos em nossa memória. Tomando de empréstimo ícones da cultura pop, o artista não revela qualquer intenção de educar um público. Contudo, não escolhe seus temas à revelia, eles fazem parte de sua vida, o que torna seu trabalho uma espécie de extensão de sua formação visual.