Jornal Estado de Minas 30/04/2009
Entre Casas e Coisas
Walter Sebastião
Mais uma contribuição para que
se veja a nova pintura que vem sendo feita em Belo Horizonte: a
mostra Outras cidades invisíveis, de Augusto Fonseca, de 30 anos, que vai ser
aberta hoje, na Galeria de Arte da Cemig. O autor é formado em cinema e pintura
pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Entre 2007
e 2008, além de mostrar seus trabalhos na galeria da escola, participou de
exposições na Faculdade de Ciências Econômicas (Face) e na Galeria de Arte
Nello Nuno. Ele está mostrando pinturas e aquarelas realizadas nos últimos três
anos.
O motivo das obras é a metrópole, em contexto que traz símbolos e signos. “É
reflexão sobre a cidade contemporânea, sobre a aglomeração de coisas,
construções e pessoas que está sempre se expandindo”, define. Há ironia nas
imagens, mas o artista prefere a palavra sarcasmo, com multidão falando, se
movendo, espremida em espaços miúdos. Mas Augusto Fonseca olha com desconfiança
a ideia de que sejam cenas engraçadas ou recriadas com humor. E não esconde que
sente incômodo diante de situação (“cada um se cercando em seu
territoriozinho”) que “na vida real é angustiante”. Sentimento que está nos
trabalhos, imagens que deixam quem olha perdido.
“Cada pessoa acaba sendo uma cidade e vice-versa, cada um tem uma cidade
interna”, acrescenta Augusto Fonseca, se referindo ao livro Cidades invisíveis,
do italiano Ítalo Calvino, citado explicitamente no título da exposição. Em
curso nas imagens está motivo amplo: “A constante busca de controle do caos
pelo ser humano”. Para além do imediato está o gosto pelo desenho, que levou a
ilustrações e experiências com animação. Buscando aprimoramento, o artista
voltou à escola e se dedicou a pintura. “Como o livro ou a música, ela sempre
vai ter espaço. É mais um meio para colocar reflexões e ideias”, defende.
O melhor da atividade de pintar? “É o processo em si, as coisas novas que você
vai descobrindo, aprendendo, acrescentando e que fazem querer pesquisar mais”,
responde. Artistas que Augusto Fonseca admira: Paul Klee, os construtivistas
Torres Garcia, Amilcar de Castro e Fernando Lucchesi, entre outros. Os motivos:
inovação e experimentação, a questão dos símbolos, a capacidade de síntese e
autonomia da pincelada.
Local: Galeria de Arte da Cemig
Endereço: Avenida Barbacena, 1.200, Bairro Santo Agostinho - Belo Horizonte
Data: Até 17 de maio
Horário: Das 8h às 19h, inclusive sábados, domingos e feriados