quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Exposição Outras Cidades Invisíveis - Galeria de Arte da Cemig 2009


Textos

Cidades de Existências Cruzadas

Giovanna Martins

"Compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia;estava na invenção de razões para que a poesia fosse admirável."
Jorge Luis Borges

Tanto aqui como do lado de lá do mar não existem cidades como estas. Estas só existem em outro lugar. Aquilo que nelas está oculto, seus jardins, suas lamparinas, seus habitantes, suas pedras, sua música, sua impiedade, habita-nos, e não se dá a ver nestas delicadas superfícies aquareladas sobre papel, nem nestas telas laboriosamente cobertas de tinta e signos.


Filhas de Eros e de Caos, forças opostas e complementares, estas cidades que passam pelas mãos do artista escondem e propõem um jogo interminável de aproximações e enigmas. Nelas correm fios invisíveis que ligam sutilmente elementos ausentes e fazem vir à tona toda espécie de memória e fulgor: é possível vislumbrar os labirintos das ruas, o cheiro das casas, as vozes que as ocupam, o rosto de um amigo, as roupas que secam, a proximidade do mar, as montanhas onde se instalam, as grades que dentro delas delimitam territórios, o tumulto e seus problemas de incomunicabilidade, o isolamento por trás de suas paredes e muros, o incessante trabalho dia e noite, as esperanças e sonhos que abrigam.



Estas cidades estão em todos os lugares e em lugar nenhum. Se redesenham o tempo todo de modo que a cada segundo a cidade imaginária contém uma real e vice-versa. São Aleph’s e seus passados e futuros estão presentes e contidos no instante da imagem: apertados espremidos inseparáveis. "                  
Giovanna Martins é artista plástica e professora do Depto. de Artes Plásticas da EBA – UFMG.

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Em suas pinturas, Augusto Fonseca busca construir um arquétipo da figura humana e da arquitetura, fundidas e representadas como construções geométricas em um aglomerado de formas, que aludem às pessoas viventes na cidade caótica.

Os trabalhos têm como estrutura os próprios habitantes da cidade em sua constante movimentação, imersos na tensão, nos ruídos e na convivência inevitável geradas pela ocupação do espaço. Busca-se construir meramente, através de especulação artística, a imagem virtual de uma cidade construída muito além de sua semelhança com o real, mas que por meios poéticos consegue abarcar e aludir às reflexões trazidas pelo contexto das grandes metrópoles.

As obras subvertem progressivamente a organização espacial da cidade, os excessos visuais e a lógica de construção, exacerbando o espaço urbano em recortes, que remetem apenas às suas unidades fundamentais: a casa e o cidadão.

Alan Fontes 
Artista plástico e Professor de Pintura da Escola Guignard.