Textos
Cidades de Existências Cruzadas
Giovanna Martins
"Compreendi que o trabalho do poeta não estava na poesia;estava na invenção de razões para que a poesia fosse admirável."
Jorge Luis Borges
Tanto aqui como do lado de lá do mar não existem cidades como estas. Estas só existem em outro lugar. Aquilo que nelas está oculto, seus jardins, suas lamparinas, seus habitantes, suas pedras, sua música, sua impiedade, habita-nos, e não se dá a ver nestas delicadas superfícies aquareladas sobre papel, nem nestas telas laboriosamente cobertas de tinta e signos.
Filhas de Eros e de Caos, forças opostas e complementares, estas cidades que passam pelas mãos do artista escondem e propõem um jogo interminável de aproximações e enigmas. Nelas correm fios invisíveis que ligam sutilmente elementos ausentes e fazem vir à tona toda espécie de memória e fulgor: é possível vislumbrar os labirintos das ruas, o cheiro das casas, as vozes que as ocupam, o rosto de um amigo, as roupas que secam, a proximidade do mar, as montanhas onde se instalam, as grades que dentro delas delimitam territórios, o tumulto e seus problemas de incomunicabilidade, o isolamento por trás de suas paredes e muros, o incessante trabalho dia e noite, as esperanças e sonhos que abrigam.
Estas cidades estão em todos os lugares e em lugar nenhum. Se redesenham o tempo todo de modo que a cada segundo a cidade imaginária contém uma real e vice-versa. São Aleph’s e seus passados e futuros estão presentes e contidos no instante da imagem: apertados espremidos inseparáveis. "
Giovanna Martins é artista plástica e professora do Depto. de Artes Plásticas da EBA – UFMG.
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Em suas pinturas, Augusto Fonseca busca construir um
arquétipo da figura humana e da arquitetura, fundidas e representadas como
construções geométricas em um aglomerado de formas, que aludem às pessoas
viventes na cidade caótica.
Os trabalhos têm como estrutura os próprios habitantes da
cidade em sua constante movimentação, imersos na tensão, nos ruídos e na
convivência inevitável geradas pela ocupação do espaço. Busca-se construir
meramente, através de especulação artística, a imagem virtual de uma cidade
construída muito além de sua semelhança com o real, mas que por meios poéticos
consegue abarcar e aludir às reflexões trazidas pelo contexto das grandes
metrópoles.
As obras subvertem progressivamente a organização espacial
da cidade, os excessos visuais e a lógica de construção, exacerbando o espaço
urbano em recortes, que remetem apenas às suas unidades fundamentais: a casa e
o cidadão.
Alan Fontes
Artista plástico e Professor de Pintura da Escola Guignard.
Artista plástico e Professor de Pintura da Escola Guignard.