sexta-feira, 22 de novembro de 2013

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Publicado no Jornal OTEMPO em 10/01/2013

DANIEL TOLEDO

Exposições "Quando Penso Ter Razão", de Augusto Fonseca, e "Pequenos Formatos, Grandes Formas", de Nerino de Campos.

Mesmo quando considerados os distintos contextos e processos que lhes deram origem, é difícil ignorar as afinidades entre os trabalhos de Augusto Fonseca e Nerino de Campos, em exposição a partir de hoje, na Galeria de Arte do BDMG Cultural. Tomando a figura humana como elemento central, ambos os artistas lançam discretas críticas e reflexões acerca de modos de vida essencialmente contemporâneos, tocando em questões relacionadas a racionalidade e alienação.

Intitulada "Quando Penso Ter Razão", a série de pinturas expostas por Augusto Fonseca se volta às diferentes nuances da dicotomia entre razão e emoção. "Se entendemos a cabeça como grande símbolo da razão, a inserção de fissuras e aberturas pode ser associada às nossas emoções e tudo aquilo que afeta o domínio da razão", observa Fonseca, que leva cerca de 20 trabalhos à exposição.

Para representar visualmente essa ideia, conta o artista, foram utilizados recursos inspirados na prolífica obra do escultor Amilcar de Castro. "Assim como ele transformava objetos a partir de cortes e dobras, procurei realizar operações semelhantes dentro da pintura, tendo cabeças humanas como pontos de partida para a criação", contextualiza, para, em seguida, propôr reflexões acerca do próprio trabalho. "Atravessamos um momento que nos exige constantes adaptações, mudanças e aberturas. Em meio a esse contexto, acabamos nos aproximando de uma postura mais fluida, mais líquida", defende, fazendo referência à obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

"Ao mesmo tempo, é interessante observar que tais cortes e dobras dão formas singulares a cada uma das cabeças. A partir destes trações, constitui-se a nossa individualidade e evidencia-se a incompletude inerente a cada um de nós", reflete o criador, que nesta série abandonou a geometria de trabalhos anteriores em direção a uma obra mais ligada ao próprio gesto.

Cotidiano. Foi também a partir de gestos livres que o pintor Nerino de Campos concebeu a série "Pequenos Formatos, Grandes Dimensões", igualmente exposta na Galeria de Arte do BDMG Cultural até o fim deste mês. "Ainda que não haja nada premeditado nessas criações, somos sempre influenciados por leituras, músicas e a própria sociedade em que vivemos", pondera Campos.

É justamente à alienação contemporânea, explica o artista, que, por meio de variadas representações do humano, se voltam os numerosos trabalhos incluídos na série. "Em linhas gerais, são pinturas que esbarram no cotidiano das grandes cidades, com suas ruas abarrotadas de carros que não conseguem andar e pessoas que, não raro, passam por cima de outras", critica o artista, sobre as 70 pinturas de pequenas dimensões que integram a exposição.

"Durante a montagem, contudo, encaramos cada um destes trabalhos como se fossem imensas telas. Ao meu ver, é impossível avaliar uma obra por seu tamanho quando consideramos a amplitude de qualquer superfície aberta à pintura", argumenta.